sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Sugestão de filme: "A Experiência"


O filme alemão "A Experiência" (2001) do diretor Oliver Hirschbiegel possui a seguinte sinopse: 20 homens são recrutados para uma experiência psicológica, de duração prevista para duas semanas, em troca de um prêmio em dinheiro. Sendo que oito deles fazem o papel de guardas penitenciários e os outros 12 de reclusos, numa penitenciária simulada.

No início da experiência, o clima de camaradagem entre os guardas e os prisioneiros se faz presente, mas com o passar dos dias, a simulação vai se tornando cada vez mais real e os papéis de guarda e encarcerado são incorporados definitivamente e sem possibilidade de volta pelas “cobaias humanas” recrutadas. Assim, aqueles se sentem superiores aos demais e aos poucos o poder que lhes é atribuído, vai sendo expandido, até se tornar ilimitado, o que, doentiamente, torna-os capazes de humilhar, violentar e até matar “seus prisioneiros”, sendo que a esses não restam saídas em meio ao caos instaurado.

Este filme foi o representante alemão do Oscar 2002 de melhor filme estrangeiro.

Assista ao trailer, disponível no site:

http://www.youtube.com/watch?v=QdTafti2wdY&feature=player_embedded

O filme é baseado em uma história real, chamada "Experiência da Prisão de Stanford" que foi realizada em 1971 por um grupo de psicólogos sociais, liderados por Philip Zimbardo. A experiência consistiu, assim como narrado no filme, na simulação de uma prisão em que os papéis de guardas prisionais e de prisioneiros foram atribuídos a estudantes voluntários, com características psicológicas semelhantes e que visava estudar os efeitos psicológicos da vida numa prisão. Previa-se uma duração de quinze dias e, segundo as regras, quem quisesse poderia abandonar a experiência a todo o momento.

Segundo o pesquisador Philip Zimbardo o término do prematuro “estudo” ocorreu por duas razões:

“Terminei o estudo prematuramente por duas razões. Em primeiro lugar, tínhamos constatado, através de vídeos, um agravamento dos abusos aos reclusos a meio da noite por parte dos guardas quando pensavam que nenhum investigador os estava a observar e que a experiência estava "desligada". O seu aborrecimento levou-os a abusos mais pornográficos e degradantes dos reclusos.

Em segundo lugar, Christina Maslach, uma recém doutorada de Stanford, que tinha sido convidada a realizar entrevistas a guardas e reclusos, opôs-se fortemente quando viu os nossos reclusos serem conduzidos para a casa de banho, com sacos enfiados nas cabeças, pernas acorrentadas, com as mãos nos ombros uns dos outros. Cheia de indignação, afirmou “O que vocês estão fazendo a estes rapazes é terrível!" No meio de 50 ou mais indivíduos externos que viram a nossa prisão ela foi a única que questionou o seu estatuto moral. Contudo, após a sua chamada de atenção para o efeito poderoso da situação, ficou claro que o estudo deveria terminar. E assim, após apenas seis dias, a nossa simulação de prisão, que deveria durar duas semanas, foi cancelada. Depois de ter observado a nossa prisão simulada durante somente seis dias, compreendemos como as prisões podem desumanizar as pessoas, transformando-as em objetos e incutindo-lhes sentimentos de desespero”.

Detalhes da chamada "Experiência da Prisão de Stanford" estão disponíveis no site: http://www.prisonexp.org/portugues/5.

Mas não é preciso simular a realidade através de experiências para constatar como o ser humano pode ser corrompido pelo poder, tornando-se um monstro para com o seu semelhante, afinal a História da Humanidade é tristemente marcada por fatos que materializaram essa abominável possibilidade.

E tragicamente a violência e humilhação ocorridas na “experiência da Prisão de Stanford" ainda são recorrentes nos estabelecimentos prisionais de todo o mundo ou, por exemplo, em práticas próximas das nazistas (noticiadas e mostradas pela imprensa em 2004) de soldados dos Estados Unidos para com prisioneiros iraquianos na prisão de Abu Ghraib em Bagdá, no Iraque ou para com iraquianas (estupradas por aqueles).











Daí ressoa a frase: “Dentro
de cada um de nós há um conformista e um totalitário, e não é preciso muito mais do que o uniforme certo para que ele venha à tona”.

E como futuros bacharéis em Direito torna-se imperioso o dever de lutarmos pela evolução da condição de vida humana: utilização, cada vez mais rara, da pena privativa de liberdade e por condições dignas para os, ainda em número alarmantemente excessivo, presos das penitenciárias de todo o mundo, mas principalmente para os reclusos do Brasil onde o sistema penitenciário se mostra cada vez mais falido.

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